Ecos e versos de um primeiro ano

No passado dia 30 de Abril, em Assembleia Geral, o Janelas Plurais - Núcleo de Arte Dramática, aprovou por unanimidade o relatório e contas referente ao ano 2009|2010 e aprovou o Plano de Actividades a implementar no ano 2010|2011. Uma vez mais – sempre o Tempo – o doze – e os seus ciclos – nos impele à observação dos ecos do que fomos e projecta as silenciosas máscaras e plurais representações dos palcos que buscamos ser.

“Parece haver, em geral, duas causas, e duas causas naturais, na génese da Poesia. Uma é que imitar é uma qualidade congénita nos Homens, desde a infância (e nisso diferem dos outros animais, em serem os mais dados à imitação e em adquirirem, por meio dela, os seus primeiros conhecimentos); a outra, que todos apreciam as imitações.”

Aristóteles – Poética,6,1448b,in M.H.DA ROCHA PEREIRA, Hélade, Coimbra,19713 ,
pp. 414-415.


A reflexão, exercício crítico, formação, prática e estudo do Teatro e do diverso território cultural – inevitavelmente lugar de convergência entre as máscaras que o habitam – foram pilares de construção do Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática. A urgência de um despertar cultural – teatral – foi motivo bastante para erigirmos esta casa onde a mimese, o conhecimento e a sua poética se encontram na construção do Humano.
Não partimos isolados nem trancamos portas essenciais ao construir deste palco, todavia, a recepção foi ténue e, facto evidente, pouco interessou aos actores circundantes. É necessário compreender que muros emparedam uns e outros, que barreiras dificultam o acesso ao promovido pelo núcleo para que o seu fim não se dissolva em si mesmo e pereça sufocado e orgulhoso. Se é um facto que, enquanto promotores culturais, cumprimos o que celebramos como raiz, não podemos alhear-nos da circunstância da participação se ter manifestado aquém do projectado. Compreendamos contudo que foram os primeiros passos do núcleo e que este, no seu primeiro ano de vida, estabeleceu pontes capazes de ultrapassar obstáculos que se lhe coloquem diante do seu potencial crescer.
Para lá da ligação com singulares personagens da cena teatral nacional, a colaboração de instituições como TEP, Visões Úteis e Teatro O Bandido evidencia o potencial exteriorizado pelo Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática. A par de cooperações e parcerias – em definição – apresentam-se aos actores que vivem em redor do núcleo – e aos que ainda não conhecem as suas máscaras – imensas possibilidades de enriquecimento cultural, e forte aprendizagem no plano teatral – teórica e prática – no contacto com profissionais directa e indirectamente relacionados com o teatro.
A pluralidade, evidente no designar do núcleo, impeliu-nos à criação de diferentes espaços de formação, estudo, crítica e prática cénica. As sessões, colóquios e seminários, as oficinas criadas, foram lugares de cumprimento estatutário, mas, e bem para lá desse executar, apresentaram-se como pontes ao desenvolvimento de potenciais actores, técnicos, criadores, mas sobretudo, possibilitaram o incremento de sentido crítico, de observação teatral – cultural – que tão alto nos grita neste palco em que nos representamos.
De modo a colmatar e provocar as escondidas necessidades do cumprimento cultural, o Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática estabelece, assiduamente, um sério e responsável contacto com as instituições municipais e seus coordenadores. É ponto chave do melhor desenvolvimento cultural do concelho, bem como do crescer do núcleo, que esta cooperação entre ambas as partes se efective, não somente no apoio pontual às actividades, mas igualmente no acompanhar, projectar e avaliar de potenciais lugares de construção teatral – cultural. Assim, e à imagem do realizado nas actividades estabelecidas para o ano transacto, o Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática alimenta, para o ano em exercício, a vontade de idêntica – senão melhor – partilha, colaboração e realização cultural no concelho, sempre em estreita cooperação com os responsáveis locais que têm erigido esforços para o melhor viver do núcleo.
Os anteriores palcos promovidos pelo núcleo são evidente rosto de necessária continuidade e desenvolvimento cultural, da formação e exposição prática dos princípios que o rege. Efectivam-se estes coros humanos na companhia Janelas Plurais. Se a moldagem de Anfitrião não se apresentou, aos olhos que a ela assistiram, e aos ouvidos que dela escutaram ecos, completamente perceptível, mais vincada fica a urgência do núcleo enquanto plataforma de alfabetização cultural. As linhas de desenvolvimento e práticas da companhia manter-se-ão e, na multiplicidade do representável, ergueram novos projectos capazes de evocar novos Homens e o seu completar. Se há reflexos de inacessibilidade no exposto, esses, com o auxílio do núcleo, parceiros e responsáveis culturais do concelho, devem ser tratados em lugares de formação e estudo, para que, a breve trecho, se mostre passível de crítica a mimese criada e se possam estabelecer raízes para uma poiesis múltipla activa em cada individuum.
O Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática, dando passos nos sentidos da alfabetização, estabeleceu, semestralmente e em plataforma electrónica, um palco de leitura capaz de impulsionar os actores-leitores à vivência responsável, construtiva e deliciosa que é o teatro, que é a cultura.
Mais que promover actividades, é urgente que estas permaneçam, inquietem e estimulem – quais sementes – os solos férteis, lavrados e por lavrar, que povoam o múltiplo palco pelo Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática habitado.