Criação de bolsa de colaboradores

O Janelas Plurais - Núcleo de Arte Dramática vai realizar uma Audição de Teatro tendo em conta a criação Bolsa de Colaboradores para as suas produções futuras. Os interessados deverão enviar a sua intenção de presença para o endereço electrónico e aguardar confirmação de inscrição. A Audição decorrerá no próximo dia 30 de Outubro no Auditório da Casa Municipal da Cultura de Fafe. Esperamos por si.


Dia Europeu sem carros

Diga lá um poema.


No passado dia 22 de Setembro o Janelas Plurais compareceu na celebração do dia europeu sem carros na cidade de Fafe. De forma a acentuar a data e a colori-la com tons dramáticos, desafiamos quem passava a dizer poesia - principalmente de Fernando Pessoa, autor que será tratado neste ano de actividade pelo Núcleo de Arte Dramática.






Ecos e versos de um primeiro ano

No passado dia 30 de Abril, em Assembleia Geral, o Janelas Plurais - Núcleo de Arte Dramática, aprovou por unanimidade o relatório e contas referente ao ano 2009|2010 e aprovou o Plano de Actividades a implementar no ano 2010|2011. Uma vez mais – sempre o Tempo – o doze – e os seus ciclos – nos impele à observação dos ecos do que fomos e projecta as silenciosas máscaras e plurais representações dos palcos que buscamos ser.

“Parece haver, em geral, duas causas, e duas causas naturais, na génese da Poesia. Uma é que imitar é uma qualidade congénita nos Homens, desde a infância (e nisso diferem dos outros animais, em serem os mais dados à imitação e em adquirirem, por meio dela, os seus primeiros conhecimentos); a outra, que todos apreciam as imitações.”

Aristóteles – Poética,6,1448b,in M.H.DA ROCHA PEREIRA, Hélade, Coimbra,19713 ,
pp. 414-415.


A reflexão, exercício crítico, formação, prática e estudo do Teatro e do diverso território cultural – inevitavelmente lugar de convergência entre as máscaras que o habitam – foram pilares de construção do Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática. A urgência de um despertar cultural – teatral – foi motivo bastante para erigirmos esta casa onde a mimese, o conhecimento e a sua poética se encontram na construção do Humano.
Não partimos isolados nem trancamos portas essenciais ao construir deste palco, todavia, a recepção foi ténue e, facto evidente, pouco interessou aos actores circundantes. É necessário compreender que muros emparedam uns e outros, que barreiras dificultam o acesso ao promovido pelo núcleo para que o seu fim não se dissolva em si mesmo e pereça sufocado e orgulhoso. Se é um facto que, enquanto promotores culturais, cumprimos o que celebramos como raiz, não podemos alhear-nos da circunstância da participação se ter manifestado aquém do projectado. Compreendamos contudo que foram os primeiros passos do núcleo e que este, no seu primeiro ano de vida, estabeleceu pontes capazes de ultrapassar obstáculos que se lhe coloquem diante do seu potencial crescer.
Para lá da ligação com singulares personagens da cena teatral nacional, a colaboração de instituições como TEP, Visões Úteis e Teatro O Bandido evidencia o potencial exteriorizado pelo Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática. A par de cooperações e parcerias – em definição – apresentam-se aos actores que vivem em redor do núcleo – e aos que ainda não conhecem as suas máscaras – imensas possibilidades de enriquecimento cultural, e forte aprendizagem no plano teatral – teórica e prática – no contacto com profissionais directa e indirectamente relacionados com o teatro.
A pluralidade, evidente no designar do núcleo, impeliu-nos à criação de diferentes espaços de formação, estudo, crítica e prática cénica. As sessões, colóquios e seminários, as oficinas criadas, foram lugares de cumprimento estatutário, mas, e bem para lá desse executar, apresentaram-se como pontes ao desenvolvimento de potenciais actores, técnicos, criadores, mas sobretudo, possibilitaram o incremento de sentido crítico, de observação teatral – cultural – que tão alto nos grita neste palco em que nos representamos.
De modo a colmatar e provocar as escondidas necessidades do cumprimento cultural, o Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática estabelece, assiduamente, um sério e responsável contacto com as instituições municipais e seus coordenadores. É ponto chave do melhor desenvolvimento cultural do concelho, bem como do crescer do núcleo, que esta cooperação entre ambas as partes se efective, não somente no apoio pontual às actividades, mas igualmente no acompanhar, projectar e avaliar de potenciais lugares de construção teatral – cultural. Assim, e à imagem do realizado nas actividades estabelecidas para o ano transacto, o Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática alimenta, para o ano em exercício, a vontade de idêntica – senão melhor – partilha, colaboração e realização cultural no concelho, sempre em estreita cooperação com os responsáveis locais que têm erigido esforços para o melhor viver do núcleo.
Os anteriores palcos promovidos pelo núcleo são evidente rosto de necessária continuidade e desenvolvimento cultural, da formação e exposição prática dos princípios que o rege. Efectivam-se estes coros humanos na companhia Janelas Plurais. Se a moldagem de Anfitrião não se apresentou, aos olhos que a ela assistiram, e aos ouvidos que dela escutaram ecos, completamente perceptível, mais vincada fica a urgência do núcleo enquanto plataforma de alfabetização cultural. As linhas de desenvolvimento e práticas da companhia manter-se-ão e, na multiplicidade do representável, ergueram novos projectos capazes de evocar novos Homens e o seu completar. Se há reflexos de inacessibilidade no exposto, esses, com o auxílio do núcleo, parceiros e responsáveis culturais do concelho, devem ser tratados em lugares de formação e estudo, para que, a breve trecho, se mostre passível de crítica a mimese criada e se possam estabelecer raízes para uma poiesis múltipla activa em cada individuum.
O Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática, dando passos nos sentidos da alfabetização, estabeleceu, semestralmente e em plataforma electrónica, um palco de leitura capaz de impulsionar os actores-leitores à vivência responsável, construtiva e deliciosa que é o teatro, que é a cultura.
Mais que promover actividades, é urgente que estas permaneçam, inquietem e estimulem – quais sementes – os solos férteis, lavrados e por lavrar, que povoam o múltiplo palco pelo Janelas Plurais Núcleo de Arte Dramática habitado.

Anfitrião Moldado ou a Ilusão Sagrada

Leitura - Ode Marítima

Sessão de Apresentação Pública
Casa de Cultura de Fafe

Sessão de apresentação pública


Casa de Cultura de Fafe
27 de Março 2009

O Janelas Plurais - Núcleo de Arte Dramática tem desde o dia 27 de Março as suas janelas abertas. No Auditório Municipal da Casa de Cultura de Fafe, realizou-se a sessão pública de apresentação do referido Núcleo. Puderam os presentes constatar da indispensabilidade de um lugar de formação, criação e debate cultural dramático. No inicio da sessão, o actor Fábio Alves, convidado do Núcleo, sob o tema: “O acto teatral no meio urbano. O actor perante as múltiplas possibilidades e linguagens passíveis de representação”, incidiu a sua comunicação no teatro perante as novas tecnologias, no surgimento de novas formas artísticas, na importância da formação e sua aplicação em cena e da função social do teatro. De modo a melhor se compreender os arquétipos do Janelas Plurais, naquilo que é o exercício prático de seus fins, os elementos constituintes da companhia de teatro que integra o núcleo e tem o nome deste como seu, realizou uma leitura encenada da “Ode Marítima”de Álvaro de Campos, com leitura de Filipe Alves de Jesus, musica de José Miguel Costa e vídeo de Duarte Antunes. O sublime do momento permite augurar a distinta qualidade dos projectos futuros. A última comunicação da noite foi responsabilidade do presidente do Núcleo, José Rui Rocha, que, de forma assertiva abordou o tema: “Janelas Plurais – Núcleo de Arte Dramática – o gesto cultural dramático: da poiesis à mimesis.” No dito ficou estabelecido o propósito do Janelas plurais. A sua existência será uma efectividade enquanto nele, os personagens que representamos, encontrarem palco e sentirem necessidade de a outros indicar lugares de representação. Fruto de renovada imaginação – elemento fundamental, e hoje enclausurado numa velha caixinha de música tocando formatação – o teatro, à imagem dos palcos vizinhos, enriquecerá a cidade de Fafe. É numa perspectiva de reeducação, reestruturação e responsabilização cultural que surge o Janelas Plurais – Núcleo de Arte dramática. Este terá sempre presente a possibilidade de convergência e coabitação entre inúmeros planos. Esta multiplicidade não comporta necessariamente um espaço ruidoso, uma visão plural pode ter origem num espaço vazio onde seja possível a construção, a criação, uma renovada leitura a cada olhar dirigido. Determinados mas não teimosos, abertos e não enclausurados, disponíveis e não promotores de adiamento, o núcleo assume o compromisso com o município que nos acolheu (mas cientes da acção num plano nacional) de promover o confronto de ideias, o debate cultural e a formação artística nos diversos planos que integram o teatro. No proposto pelo Janelas Plurais não haverá lugar à indiferença. É seu propósito despoletar, de forma ambivalente nas mentes que futuramente os preencham – combatendo a monovalência instituída – um sério sentido crítico.

O gesto cultural dramático - da poiesis à mimesis

A invisibilidade e o silêncio da cultura comportam uma súplica angustiante no gesto praticado. Sentada num qualquer lancil de passeio, esta suga migalhas que permitam este vício conservar ou só e exposta em longe janela do seu palácio acena difusa a quem passa sem ser reconhecida. Em entrevista a Luís Miguel Queirós, jornalista do jornal o Público, Paul Schrader admite que o cinema está a chegar ao fim e dará lugar a algo cujos contornos ninguém pode ainda antecipar. Di-lo com a melancolia de quem deu o melhor de si a essa arte para a qual agora não vê futuro, mas também com a lucidez de quem sabe que "a função do artista não é a de lutar contra a tecnologia". Nesta perspectiva, e substituindo o objecto de estudo, Pedro Barbosa alerta que “(…) o argumento de o teatro ter uma história milenar não é garantia da sua perenidade: porque o teatro, como tudo o que é actividade humana, não é eterno: é histórico. E não tenhamos ilusões: o contexto histórico alterou-se radicalmente. (…)” Podemos continuar a colocar questões imensas e de cariz mais ou menos relevante acerca da prática teatral nacional, ou, num assertivo gesto, compreender da urgência da sua maleabilidade. As adaptações e metamorfoses que o teatro enfrenta, não comportam necessariamente a incoerência, nem violam a sua essência, antes pelo contrário, manifestam a sua grandeza ao apresentarem os imensos territórios que nele convergem. Num palco social onde a individualidade prevalece e a necessidade de ser primeiro ultrapassa o único-plural para se transformar num singular-egoista, esta conjugação de linguagens que o teatro nos oferece quase alcança e sub-roga, numa merecida conquista, o tão famigerado gesamtkunstwerk Wagneriano. Este sentido, ou sentidos, de obra de arte total, pode, pela sua multiplicidade de linguagens distanciar as pessoas pela complexidade apresentada e tornar-se num gesto de incompreendida resistência, quase roçando a arrogância e antecipar, por abandono e desprezo, a morte do teatro. Mas a quem interessa o teatro? O que entendemos nós por teatro? Em que minúscula gaveta o guardamos? É necessário que hoje, encontrando-se este transformado, o teatro contraia uma nova atitude estética; recupere espaços idos de identidade; se reencontre diante novas formas de expressão estéticas adjacentes a ele, como é caso da televisão, do cinema e, mais tangencialmente a literatura. “O teatro, enquanto meio de expressão, tem potencialidades únicas e uma força muito própria. Mas nem sempre se tira partido disso – desde logo no seu começo, que é o texto ou projecto dramatúrgico – talvez por falta de uma tomada de consciência prévia da sua identidade estética.” O Teatro pode permitir-nos mais do que a particular circunstância de espectáculo, motivo da co-presença entre espectadores e actores. O teatro pode originar uma envolvência total, ultrapassando o referido fenómeno de contacto como a ele se referia Grotowski; “ pode abrir-se à participação física e emocional do espectador, pode tornar-se num momento de “comunhão”: no limite o teatro pode mesmo transformar-se numa vivência estética integral. E isso nenhuma outra arte consegue fazer.”

O presente, ponto de colisão entre um passado consumado e um futuro intentado, manifesta a sua imensa instabilidade ao comportar tradição e buscar a miragem do imperceptível novo. O teatro é pródigo em reerguer-se de entre pauis de malogrados diagnósticos e antecipadas certidões de óbito, no entanto, padece no momento de um infortúnio castrador, inibidor, um vírus letal com odor a conformismo e parasitismo mais conhecido por lei de mercado – digo mercador – com enorme capacidade de o imobilizar. O cumprir de essência do fazedor único que somos encontra-se limitado pela dimensão da carteira pessoal. Parafraseando Agostinho da Silva, a cultura será uma realidade necessária quando todos tiverem lugar à digestão. Ora, ou se pensa no abandono da compra do gratuito a que apelidamos de vida, ou o acesso à praxis cultural continuará restrito e arrumado da prateleira mais recôndita do armário das nossas necessidades. É numa perspectiva de reeducação, reestruturação e responsabilização cultural que surge o Janelas Plurais – Núcleo de Arte dramática. Será um rotundo falhanço a génese deste núcleo se não se desenvolverem hábitos de frequência e debate, se não forem criadas e perspectivadas novas formas de participação do município no acto cultural. Todavia, ao promotor, cabe-lhe o facultar de possibilidades, estas serão potenciais palcos de amadurecimento se houver lugar à procura. A cultura pode não se compreender, daí a premente necessidade de discussão, estudo, observação e empenho na pesquisa do objecto incompreendido de modo a que este se manifeste a cada passo mais claro e perceptível, rejeitando assim uma duvidosa prática etnocentrica e sobretudo, demolindo os muros que povoam determinadas comunidades, que, no dizer de Boaventura Sousa Santos, se denominam de Comunidades fortaleza. A irresponsabilidade de renúncia cultural, a limitação de acesso a um vasto leque de territórios, pensamentos e práticas culturais diferentes das que vivemos, pode provocar danos irreversíveis. A que distância estaremos do ponto de irreversibilidade? Localizamo-nos antes ou depois desse perigoso ponto? Assumindo esta última situação, qualquer que fosse a proposta de acção, não passaria de uma intenção e o esforço aplicado um despropositado gesto. Contudo, as impossibilidades, como as distâncias, medem-se em determinação e aí, os mais rígidos significados correm o risco de se esbaterem. Determinados mas não teimosos, abertos e não enclausurados, disponíveis e não promotores de adiamento, assumimos o compromisso com o município que nos acolheu (mas cientes da acção num plano nacional) de promovermos o confronto de ideias, o debate cultural e a formação artística nos diversos planos que integram o teatro. No proposto pelo Janelas Plurais não haverá lugar à indiferença. É propósito nosso despoletar, de forma ambivalente nas mentes que nos preencham – combatendo a monovalência instituída – um sério sentido crítico. Para tal, e de modo a que se exerça este gesto com responsabilidade, é necessária a promoção de lugares de estudo e de debate. Os potenciais parceiros serão presença constante nas acções criadas, possibilitando o encontro entre dramaturgos, actores, encenadores e técnicos, filósofos, críticos, mestres e profissionais que vêem no palco um lugar de convergência de linguagens. Neste plano, a musica, o movimento e a dança, a literatura, a pintura, a arquitectura e outras áreas passíveis de se reunirem em cena serão discutidas e sobretudo miscigenadas, com a necessária dose de conhecimento e responsabilidade, de modo a produzirem esse teatro mutável, mas acima de tudo permanecendo em essência teatro. A premência do debate cultural, o pensar o teatro, não se pode afirmar como bastante para uma mudança de mentalidade e uma nova atitude perante os gestos culturais praticados. É fundamental que haja lugar à prática e que, evidentemente, esta se complemente com a anterior. De modo a dar cumprimento ao estabelecido nos seus estatutos, o Núcleo encerra uma companhia de teatro constituída por técnicos qualificados nos distintos campos que integram a arte dramática. Seria despropositado o delimitar de acção desta equipa e rotular à nascença a sua prática teatral, no entanto, fica esclarecido que a pluralidade manifestada no designar do núcleo será mantida, e as linhas em diálogo no palco atestarão, ou não, da verdade do dito. Se há um dito, há um não dito, se há um visto, há um não visto. O fazer teatro desta companhia será essencialmente sugerido pelo não dito, não visto, não conhecido, projectando em cena novos textos, linguagens, novos lugares do palco, havendo contudo, e como não poderia deixar de ser, lugar para o cânone, para os chamados clássicos, respeitosamente trazidos à cena de hoje. Seguindo o conselho de Horácio, tudo o que delinearmos será “sempre simples e ao mesmo tempo um todo.” A poiesis dramática adoptada, que permitirá que a mimesis funcione, terá sempre presente a possibilidade de convergência e coabitação entre inúmeros planos. Esta multiplicidade não comporta necessariamente um espaço ruidoso, uma visão plural pode ter origem num espaço vazio onde seja possível a construção, a criação, uma renovada leitura a cada olhar dirigido. O Núcleo de Arte Dramática tem desde hoje as suas janelas abertas. A sua existência será uma efectividade enquanto nele, os personagens que representamos, encontrarem palco e sentirem necessidade de a outros indicar lugares de representação. Fruto de renovada imaginação – elemento fundamental, e hoje enclausurado numa velha caixinha de música tocando formatação – o teatro, à imagem dos palcos vizinhos, enriquecerá a cidade de Fafe. Voltando a Agostinho da Silva, que o nosso saber de adulto não obstrua o nosso brincar de criança – Poeta irrefreável do grande teatro do mundo onde habita o hibridismo de fronteiras entre territórios – real e ficcional. Com coragem, auxiliemos a cultura a erguer-se do lancil onde sentada suga migalhas, e num gesto humilde peçamos que desça da sua janela de palácio e se mostre diante nós para melhor a compreendermos. O Janelas Plurais dispõe-se a esse propósito.